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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Porque és do partido A e não do B:

Acaso ofende assim tanto alguém dizer que entre a esquerda e a direita está acima? Desde quando formular a questão de maneira um pouco mais inabitual sem deixar de ser precisa é motivo para se ser julgado ou levado menos a sério? Ora, pessoalmente, vejo na postura blasé e pedante de quem quer se mostrar “acima do debate” e ensaia a fuga para a frente, batendo no peito que é isto ou aquilo, apenas uma confusão dos tempos modernos em que se confunde termos e se chafurda na coisa burguesinha que são os grupinhos em que se nasceu ou se pelejou para ser aceite. Ah, isso leva-nos a outra atitude malsã que é negar o clube do partidarismo. Esse então, ui ui. É que mesmo admitindo-se que é inteiramente natural haver tensão entre as vagas definições (mais sensações, na verdade) políticas aceites pela comunidade e as auto-definições do indivíduo (que acontecem, quando chegam a acontecer, após um longo período de maturação), mesmo assim, todos acham assim tão natural a existência de juventudes partidárias?!


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Não estranha pois a ausência de critérios explícitos até em gente que deveria ter juízo. Por exemplo quando a conversa é sobre a economia e o actual estado da economia ou formas de se sair da crise. Muitas vezes oiço e leio de opinativos variegados críticas a este ou aquele sistema ou opção, que são a bem dizer, apenas a verbalização de simpatias ou antipatias de clube, como se a conversa andasse em torno das qualidades intrínsecas de se ser benfiquista, sportinguista ou portista. A crítica económica também depende de argumentação e prova; por alguma razão, os delicados espíritos que se julgam muito nobres por estarem sempre do contra só porque sim, costumam ter aversão à ideia de ter que provar (ou ao menos tentar provar) alguma coisa, como se isto fosse uma profanação terrível da sua preciosa experiência ou visão saturnina de vida. E, ainda que seja saudável desprezar a opinião que trata a situação do país como um cadáver, isto não significa que se deva subitamente abandonar o intelecto e valorizar uma opinião só porque ela conseguiu tirar o pseudo-opinativo, o comum leitor de blogues e jornais do seu permanente estado de letargia. O critério "se eu gostei, deve ser bom", que é o memo que dizer “se foi dito ou escrito por quem identifico como pertencente ao meu clube”, além de ser o mais egocêntrico possível, também destrói a possibilidade de uma diferenciação real das experiências, e com isso a ideia de que possa existir um fundo de esperança, uma esperança que possa, por ser esperança, actuar como mola para se sair de situações difíceis. Sem o desejo de tentar provar algo, os nossos opinativos são só uns palhacinhos que querem palco para atrair atenção, exactamente como um concorrente do “Big Brother”.


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" Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos."

By Nelson Rodrigues

terça-feira, 6 de julho de 2010

Ortodoxia e os "ismos":

G. K. Chesterton (na foto), escreveu o ensaio Ortodoxia como resposta a um desafio lançado pelos modernos do início do século XX, e a mensagem ali contida, surge-nos hoje mais do que actual. Depois de um final de século particularmente vitorioso para o capitalismo e um dealbar de século que confirma por quase KO essa vitória, vemos hoje, proliferar novamente um assanhado sentimento utópico e revolucionário - outrora exclusivo dos socialistas e comunistas. Por exemplo na internet: basta passear por certos blogues cujos autores se dizem de direita e dentro da direita se dizem liberais, e, vemos passar à nossa frente novamente a velha “ganga” de certezas inabaláveis e credos irrefutáveis; entre elas vem a certeza de que basta destruir o que existe (estado, instituições, uma golden chare, etc.) para florescer uma nova sociedade; não se cuida que tal desiderato, longe de constituir um caminho, é, ao invés, a estrada rumo ao cinismo e ao caos.

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Ora, se de alguma coisa já podemos ter certeza é de que não há certezas que nos valham. Hoje, o traço distintivo dos seres humanos é a incerteza. Tudo é incerteza meninos! Não sejam burros e oiçam: -“ não nos é possível, de todo, ignorar a diversidade, a imensa diversidade, e, apresentar uma solução absoluta, que teria de ser imposta, ok?! Chega-nos a história do século XX como exemplo acabado e recente, dos resultados de décadas de lubrificação ideológica e revolucionária das cabeças pensadoras. Estou a falar de ideologia, utopia e revolução e não de ortodoxia, essa, a ortodoxia, continua a ser a resposta essencial ao desafio de todos os “ismos”, a começar por Kant (ou desde Kant) até agora.