sexta-feira, 30 de julho de 2010

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Para mim a monarquia está associada a filmes com reis mais ou menos tarados a comerem coxas de frango e a beberem por grandes taças com o liquido roxo a correr pelos cantos dos beiços e pelo queixo.

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Os grandes “maitres à penser” do criacionismo Leonardo Coimbra e A. Quadros foram grandes influências intelectuais da minha vida – com o A. Rubem, o embaixador Homem de Melo e até o Agostinho da Silva a chegarem bem perto disso. Aquela tipa que apresenta telejornais na sic-not, Ana não sei das quantas, também é mais inteligente do que parece. Acho que todos têm alguma coisa para nos ensinar nesta vida, menos os Vascos (Graça Moura e o Pulido Valente) e o inefável Mário Crespo.

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Quem lê a imprensa portuguesa (coisa que tendo a não fazer) e vê telejornais em Portugal (ainda menos) chega depressa à conclusão que não é possível uma discussão séria sobre que assunto for. Mais, quando esse assunto ofende (justa ou injustamente) alguém na sua personalidade ou carácter, existe mesmo um propósito consciente de bloquear toda discussão séria, reduzindo os artigos, os comentários, as milhentas discussões a uma compactação de slogans, que têm o único propósito de fazer correr o marfim comercial das vendas de papel e audiências, o que passa a favorecer, automaticamente, sempre o lado mais mentiroso – normalmente ao ataque -, o qual até pode ser motivado por ódios de estimação mais ou menos protegidos pelas direcções dessa imprensa. O exemplo da foto é esclarecedor. Trata-se de um belo exemplar com direito a prémio e cabeça na parede. Quem quer que tenha estudado um bocado da técnica da argumentação conhece a regra infalível do sujeito e que é aplicada de forma mais canhestra por outros: a mentira tem o privilégio de poder expressar-se com mais brevidade do que a refutação dessa mentira. Em trinta linhas ou em dez minutos de televisão (aqui mais grave porque se faz recurso a imagens), um qualquer jornalista (mas o tipo da foto é o melhor espécime conhecido em Portugal) pode acusar um qualquer sujeito (o odiado) de uma dezena de crimes imaginários. Esse sujeito (o odiado) precisará de pelo menos trezentas linhas ou horas de televisão para provar que não os cometeu. O que será sempre impossível. Esta é a vida actual em todo o seu esplendor, mas é também, meus caros, a morte da política às mãos de tipos sinistros. As consequências disto tudo dependem do país em que se vive e da cultura desse povo. Sofrer uma calúnia nos Estados-Unidos, Inglaterra, França ou Itália, mesmo na Espanha, não é o mesmo que sofre-la em Portugal. Aqui só a madre Teresa se escapava, e mesmo essa... se não caísse no goto ao "bigodes", ui ui!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

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A propósito do circo com que alguns comentadores, ditos liberais, se deliciaram durante os últimos anos, relembro a frase deste senhor na foto:
"Ah, os nossos libertários! Bem os conheço, bem os conheço. Querem a própria liberdade! A dos outros, não. Que se dane a liberdade alheia. Berram contra todos os regimes de força, mas cada qual tem no bolso a sua ditadura."

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Fine and dandy. Tal e qual como uma imensa "comunidade" de comentadores, jornalistas, profissionais dos tribunais e blogers, se sentem hoje. Pois é, deviam ter tido juízo.

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Sempre que me dizem que fulano falou mal de mim a beltrano, pergunto sempre: - “ok meu velho, mas o quê concretamente? E depois de saber que foi um ou outro pormenor defeituoso do meu carácter, não só concordo, mas, ainda, como o filósofo da antiguidade (ah!, tu sabes qual), aproveito para exasperar de tanta felicidade; ora, afinal, tenho tantos mil pormenores defeituosos no meu carácter. Que diabo!, o que é isso de um ou outro pormenor?!

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Um princípio subjacente ao liberal comum, ao imbecil que anda por aí a clamar que é liberal e tal, é que ele tende a concordar, sempre, que o estado deve gastar cada vez menos; sendo igualmente verdadeiro, que, tende a discordar sempre que “o cada vez menos” é algo específico dele mesmo. Já para não falar dos que afirmam ser libertários de gema, para depois virem defender, como defenderam, que o estado “escute” ilegalmente comunicações telefónicas; fazendo supor ali, uma mentalidade tão perigosa quanto a dos que proibiriam, se pudessem, a realização de reuniões públicas de apoio a causas distintas das suas.

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Que raio querias tu dizer com o comentário anterior, jovem Paulo? – “Ah! Então não se vê logo? Pensa comigo. Os economistas, no público ou no privado, são ou não agentes económicos e também políticos? O privado, designadamente a banca, está ou não dependente do público, do estado? Os jovens turcos e os menos jovens (nem por isso mais independentes) economistas relatores, estão ou não cerceados por uma versão da ciência económica que os fazem sempre maximizar os seus benefícios e pequenos poderes como agentes económicos e políticos? Ora, aí o tens!”.

terça-feira, 27 de julho de 2010

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Sinal dos tempos ou talvez não; alarmante decadência espiritual ou apenas sinal da decadência do ensino, é o facto por demais evidente de abundarem entre os mais influentes de hoje, os licenciados em economia ou ainda vagamente doutorados nessa área. Tão bem relacionados com a classe empresarial e política, tão bem vindos às várias sinecuras e centros de decisão, que ficamos com a impressão de que a única possibilidade de acção, no mundo contemporâneo, esteja no seio deles. Agora, quem são os principais culpados desta crise, quem são?

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Os socialistas e os conservadores são essencialmente seres utópicos: para os primeiros não há mais nobre utopia do que a história "de um outro mundo possível"; para os segundos não há mais nobre utopia do que aceitar a realidade como ela é. Algures no meio, ou acima, estão os liberais.

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Gentlemen's Club: this is a place where men can hang out with men only, sip brandy, smoke cigars, talk about politics, cut deals, spew out anecdotes and compare mustaches.

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Um truísmo darwinista: isto é Fast food.

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Ah, a blogosfera politica! A nova intelligentzia nacional de ambos os sexos e quadrantes; não se limitando a ser a mera soma de um certo número de imbecis individuais, é, ao contrário, uma colectividade etérea de pessoas de inteligência normal (ou mesmo superior) que se reúnem movidas pelo desejo comum de se imbecilizarem umas às outras.

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Quero dizer uma coisinha. Chega cá o ouvido. Chega mais. Isso!, agora houve bem: - estou-me pouco lixando para o progresso social e político da humanidade!, ok, meu velho?!

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Quem ouvisse Louçã comentar os resultados dos testes de ‘stress’ à banca portuguesa concluiria, facilmente, que a arrogância palavrosa da intelectualidade da chamada esquerda radical encontrou, no ambiente de indignação popular contra a miséria e a corrupção, o mais potente dos estímulos que as almas pouco ou nada sinceras necessitam para livrar-se do último vestígio de compostura: um pretexto moralizante. Quando a leviandade, a tolice, a arrogância pretensiosa são convidadas a subir ao palanque para discursar em nome da "ética", não há mais limites para os progressos da inconsciência: a moralidade é o último refúgio dos imbecis. Quanto a mim não tenho duvida: estamos perante o mais vetusto imbecil português, quiçá, de todos os tempos!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

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Viver neste país é um acto de bravura. Todo o santo dia os portugueses são mergulhados numa indigna simulação. Engano. Intenções frustres de realidade. Ok, é certo que nos últimos trinta anos temos vivido de acordo com um modelo que não é o meu modelo e que nem sequer é já cópia fiel do modelo que o inspirou; qual manta de retalhos, necessita de ser repensado se queremos chegar ao patamar mais elementar de outras sociedades do primeiro mundo. Agora, será pedir muito aos actuais agentes do processo histórico, um mínimo indispensável de consistência, de realidade e de substancialidade? Será? Quando oiço propostas de liberalização deste ou daquele sector, é evidente que primeiro exulto, mas, depois verifico que é conversa, tudo simulação e, por isso, os únicos enfoques possíveis para estudar essas propostas são: o da psicopatologia social e o da criminologia: o primeiro porque as conexões entre os pensamentos e a realidade, entre a vida interior e exterior dos personagens, são puramente convencionais e imaginárias; o segundo, porque não há um só acto ou decisão que os proponentes possam levar adiante sem que concorra o apoio dos que se lhes opõem. E andamos, todos, numa espécie de violação das inteligências, para não dizer dos princípios elementares da moralidade. No fundo, a simples existência de um país com representantes destes, e de povo que aceita este tipo de representantes, estando na disposição de lhes dar palco, já é em si uma imoralidade, talvez um crime.

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George Parr

sexta-feira, 23 de julho de 2010

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She's by far the most beautiful woman ever. Fuck Yeah!!!

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I simply could not resist it.

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Cool Guys Don't Look At Explosions.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

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"Aquele a quem os deuses querem destruir, primeiro deixam-no louco."

— Eurípides

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Não existe nada mais português do que a critica fácil ao próprio português. É de certo modo banal a forma como qualquer português desata a apodar os restantes de bandalhos, vendidos e outros que tais. Certo porém, é que quem acusa nunca se inclui na crítica, como à volta, não existe português a dizer: - presente! Ninguém se sente representado, nunca.

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Portugal é um país tomado por imbecis de alto a baixo; reconheço como imbecil: o meu vizinho, a senhora das limpezas, o chefe e, em geral, os que comigo se cruzam. Todos rematados imbecis. Existe na imbecilidade lusa uma certa puerilidade. Tal pode ficar a dever-se ao Salazarismo, à “revolução” socialista ou a um qualquer mal genético que transporta a imbecilidade de pais para filhos; tão pueris na forma como entregam a vida e o seu destino a uma entidade abstracta como estado. Como se critica a família, a nossa família, assim se critica o estado ou Portugal; na verdade, os únicos portugueses minimamente decentes que conheci na vida, ainda que com um ou outro defeito de carácter, foram portugueses a viver no estrangeiro. Chega a ser lindo o amor patriótico que aqueles sentem por um país que, caso o habitassem em permanência, falariam tão mal dele quanto os outros que cá vivem.

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Não existe também nada que os portugueses gostem tanto de fazer quanto escolher um qualquer bode expiatório. O bode expiatório luso tem no entanto uma característica que faz dele caso único: pode passar em poucos anos, um ou dois (existem casos em que levou mais tempo), do estado de maior bandalho à face da terra, responsável pelos piores e mais funestos males que afectam a pátria, para o de bom, honesto, justo, casto e recto cidadão, um verdadeiro oráculo para onde as atenções e movimentos de cabeça se viram. É assim a loucura deste povo.

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Acaso já ouviste um português a contar o que disse e fez ao “outro”: ao patrão, ao doutor, ao mecânico ou ao vizinho? Já? Qual é a característica? Nenhum português, alguma vez na vida, admite que nessa conversa foi ele o humilhado e até foi ele quem “baixou a bolinha”. Nenhum!

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O português é alguém que bate no peito enquanto grita: - “sou honesto!”.

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O português é alguém que está sempre do lado de alguém, tem sempre uma facção: do mais forte!

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O português segue com fidelidade canina e de modo servil o mais forte e sabe que ele sabe que nisso não é sincero: os portugueses mais fortes foram sempre portugueses servis e caninos!

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Não há nada que cole mais a um português de ambos os sexos do que ser tiranete. Ser tirante é uma espécie de lavagem dos fígados por anos a baixar a cabeça. Para alguns trata-se de um prémio de carreira.

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O português é em geral um palhaço social. O português com um pouco de poder é socialmente um palhaço rico.

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Quando almoço com um português com um pouco de poder, qualquer espécie de poder, não consigo parar de imaginar aquela cara pintada de branco com um grande borrão encarnado nos lábios.

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O português tem um especial gosto em amesquinhar e apoucar os outros (portugueses como ele), desde que estejam um pouco abaixo dele na escala social ou profissional; contudo, esse mesmo que amesquinha e apouca, também é capaz de dançar à volta dele mesmo enquanto imita sons de pato se por sua vez alguém superior a ele mandar; e assim vai tudo a subir em espiral até ao topo numa comédia estilo BBC vida selvagem.

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Não à nada que mais excite um português de ambos os sexos do que falar mal de um outro que se oferece para qualquer coisa sem ser do grupo.

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A desconfiança do português é canónica.

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O português escolhe os amigos em função dos defeitos que reconhece nele mesmo; mas como normalmente não tem capacidade de auto-análise acaba invariavelmente atraiçoado.

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O português nasce velhaco. Aliás, a velhacaria é um traço genético no português.

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Os melhores portugueses foram e são aqueles que alguma vez se sentiram estrangeiros.

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A melhor forma que um português tem de se libertar da maldição de ser português é apanhar um autocarro pejado de portugueses. Ou um avião. Basta uma vez para ficar vacinado.

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Portugal não é um país, é uma pandemia de oito séculos.

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O português é um vírus improvável.

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Quando regresso do estrangeiro e cruzo a fronteira portuguesa, sinto que estou a entrar num laboratório onde foi entornado um tubo cheio de vírus.

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Um estrangeiro não visita Portugal para experimentar sensações fortes.

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Um português não visita um país estrangeiro para conhecer e ficar culturalmente mais rico; um português visita um país estrangeiro para contar a visita a outros portugueses, acrescentando sempre, qual Miguel Strogof, uma atmosfera romanesca. As histórias de viagens entre portugueses são uma espécie de troca de cromos ou contagem de pilas.

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Qualquer português tem sempre a solução: pegar na ultima gafe, na ultima trapalhada e generalizar aos restantes compatriotas, tendo o cuidado de se por de fora a ele e à sua gente: família, amigos (normalmente coleguinhas do colégio, escola, faculdade e por aí fora) e membros do mesmo clube politico, desportivo ou estrato social.

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Existe algum antídoto para o portuguesismo? Sim, conhecer o mundo.

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Só há dois tipos de pessoas que adoram Portugal: os estrangeiros idiotas e os portugueses estrangeirados; uns gostam com a inocência de quem desconhece, os segundos por malícia.

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Não existe país no mundo, onde, um tipo bem-nascido, rico, viajado, educado e culto, se sinta melhor do que em Portugal. É vê-lo salivar de tanta superioridade.

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O português comum detesta ser feliz e detesta ver a felicidade estampada no rosto de alguém. Existe mesmo uma fórmula eficaz de um português irritar outros portugueses: estar sempre de sorriso na cara, mesmo perante adversidades, pressões e chicotadas.

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Um português não suporta ser apodado de “portuguesinho pateta”.

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Ser português é qualquer coisa impossível tal é a profusão de tipos. No entanto, duas características: o português é aquele ser que possui a qualidade pachorrenta de um bovino com a pertinácia teimosa de um jumento.

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A velhice trás a um português aquela qualidade de se sentir ainda qualquer coisa que nunca foi, com uma vontade indómita de ainda ser qualquer coisa que ninguém lhe reconhece.

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Em Portugal até as elites são remediadas.

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Um partido político em Portugal é uma seita: propõe a salvação, o seguidismo acéfalo e uma dogmática ao mesmo tempo que radicaliza a diabolização do adversário.

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Dar uma oportunidade em Portugal significa tão-somente isto: és dos nossos! Daí que só os cretinos, os imbecis, em todo o caso, os muito portugueses dêem oportunidades. Os outros, os que alguma vez já se sentiram estrangeiros ou órfãos da sua nacionalidade, normalmente, não dão oportunidades a ninguém, ou porque a não tiveram, mas, ainda, porque são ricos e passam gostosamente longos períodos no estrangeiro.

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Ainda existe aquela fauna de ricos que apenas acrescentam ao ser português, o dinheiro. Vejamos aquela trupe que durante anos e com o beneplácito de um governo amigo se encheu e encheu os seus amigos, ora no BCP, ora no BPN. Todos sem excepção são portuguesinhos no seu melhor; alguns, com canudo em universidades conceituadas no estrangeiro (as segundas gerações), que, quais nababos, enriqueceram à conta da alma portuguesa, ou seja, não fora estarem em Portugal e nunca conseguiriam chegar onde chegaram.

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Para o português comum não existe nada que o deprima mais do que lhe dizerem que é um português comum.

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O português detesta ver portugueses que triunfam nas suas áreas. É como se aquele fosse o avesso do reviralho ou um português que se estrangeirou.

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No estrangeiro os portugueses são sempre escolhidos para chefiar um grupo de portugueses. Porque será?

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És português? – “Glup”!

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Porque será que os imigrantes quando nos visitam se esforçam por dialogar entre si na língua do país onde vivem? Ora, porque o sonho de qualquer português comum é um dia ser confundido com um estrangeiro.

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Da minha experiência, nunca conheci um português de jeito, só portuguesas jeitosas (antes de abrirem a boca).

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Qualquer português me provoca vómitos apenas ao abrir a boca, então, controlo a náusea respirando fundo e contando até três enquanto faço um sorriso.

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Portugal vive atolado de merda que impossibilita ver. Daí que quem se dedica à alma portuguesa, como o filosofo Eduardo Lourenço, tenha que viver no estrangeiro. Até o Manuel Maria Carrilho ficou mais sagaz desde que foi viver para Paris.

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O Pacheco Pereira representa na perfeição o ser português: o cão que regressa ao seu próprio vómito! Ao Pacheco perdoa-se tudo, excepto, ter vivido no estrangeiro tanto tempo e ainda conservar tanto do português comum.

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O António Borges pressentiu que se estava a aportuguesar e foi embora sem deixar de exclamar: - “Ufa! Foi por pouco!”. Já aos Vascos aconteceu uma calamidade (o Graça Moura e o Pulido Valente), com uma gravidade maior: o seu ar permanentemente zangado é de quem analisou a situação, mediu prós e contras e, ainda assim, preferiu continuar um português comum.

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O intelectual português com menos de quarenta anos trai-se assim que abre a boca ou deixa o primeiro parágrafo: está sempre a soldo de alguém. Ora, ser livre e ser português é uma contradição nos termos, tal como ser rico e talentoso antes dos quarenta o é.

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O português descobriu no telemóvel uma forma de escapar ao juízo de quem o acusa de ler pouco.

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O português nunca se liberta do telemóvel, até porque, em Portugal, é das poucas coisas que uma entidade patronal pode fazer para amaciar um trabalhador: dar-lhe uma forma de estar sempre contactável.

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O intelectual comum em Portugal descobriu a pólvora: na televisão põe um ar doutoral, compenetrado e imparcial ao dizer aquele discurso meio redondo, e, na net, esforça-se por ser o mais escatológico possível nas suas desafectações, em regra, piora nas mudanças de percepção do ambiente politico.

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O intelectual português é sempre muito cordato e compreensivo face ao poder vigente ou percepcionado (ou em potência) e, razoavelmente – para não dizer muito – contundente, para com poder já gasto, já esvaziado ou em fim de ciclo. No fundo, nada distingue o intelectual português comum, do simples adepto de futebol no sofá.

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A qualquer português que pergunta: - “está brincar comigo?”, devia ser respondido: - “não, estou a brincar comigo!”. Ora, o português, mesmo quando discute, está a falar para si mesmo.

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O que acontece quando o intelectual português comum faz força para pensar em directo na televisão? Faz comédia de costumes.

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Em mais país nenhum existem intelectuais como os portugueses. Ser intelectual e ser português não é possível em Portugal; excepto os poetas que só se dedicam à poesia; nenhuma actividade provoca mais estados de alienação do que a de poetar; os poetas, mas só os que se dedicam à poesia, vivos ou já mortos, como conjunto, está mais para fora do que para dentro do país. Logo, para um poeta, que faça disso ganha-pão, é insensatez permanecer em Portugal.

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Em Portugal, as universidades privadas, vieram acabar com o monopólio do mau ensino superior.

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Qual é a principal diferença entre um estudante português do ensino superior público e um do ensino superior privado? Só um deles tem vergonha na cara.

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Só em Portugal é possível a alguém, que recebe uma choruda pensão do estado, ainda por cima desde os 47 anos de idade, dizer, a plenos pulmões, e sem se rir: que reduzia os vencimentos de quem trabalha em 20% ou 30 %, sem mais explicações.

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Só em Portugal é possível a alguém, que recebe uma choruda pensão do estado, ainda por cima desde os 47 anos de idade, escolher tão mal as gravatas e os fatos.

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Aliás, ser português é isso: uns são pimpões sem cheta, outros estão mortos mas com dinheiro no banco.

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Em Portugal, optar por colocar um filho numa escola privada diz duas coisas: a primeira é que não se confia no estado como educador, a segunda é que não ser quer cá misturas.

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Qualquer português que foi alguma coisa nesta vida, ainda que por escassos 15 minutos, é-o para toda a vida. Se não acreditas, olha para o Ramalho Eanes.

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O português é um africano com todos defeitos de um espanhol.

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Os portugueses em vão tentaram deixar uma marca no mundo, sem lograr, que foram sobretudo eles a ficarem marcados.

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Quando se fala da descolonização portuguesa esquece-se o fundamental: aqueles povos já não suportavam ter o que quer que fosse com os portugueses.

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Qualquer angolano, moçambicano, são-tomense e outros, sabe, que de Portugal não deve esperar nada.

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O que o povo angolano, moçambicano e outros que tais, mais lamentam, foi terem sido colonizados por portugueses e não terem tido a coragem de se libertarem dessa funesta malta tão a tempo como o Brasil.

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O Agostinho da Silva (um estrangeiro) costumava dizer que o brasileiro é um português à solta. Ora, isso, é o equivalente a dizer que é merda à solta. É uma ofensa tremenda.

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Uma ratazana prenha devia ser o símbolo nacional dos portugueses.

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Portugal não é difícil e não precisa de especiais cuidados para ser vendido ao estrangeiro. Enfim, têm razão ao dizer isto, porque uma puta ébria e mal tratada pela vida, também não é difícil nem necessita de especiais cuidados para vender o corpo.

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Hoje, estou especialmente enojado com os portugueses. Tanto, que tenho que me resguardar de duas em duas horas de qualquer contacto.

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As minhas narinas farejam um português à distância. O único sítio, onde, alguma vez na vida fui feliz, foi numa ilha das Maldivas: não havia um único português por perto.

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Longas temporadas no estrangeiro purificam.

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Que diabo! Se pensas tão mal dos teus compatriotas e não podendo emigrar (era só o que faltava), que pode tu desejar deste país? Simples: que se torne liberal e que o Estado deixe de meter o bedelho onde não é chamado. Cada um por si, e sem mamas postiças, sff.

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O liberalismo nunca vingará em Portugal. O português abomina estar sozinho.

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Se existe coisa que a experiência liberal aconselha, é ser implementada em países onde os cidadãos sejam livres.

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Sem o estado, milhões de portugueses morreriam à fome.

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Sem o estado, milhões de portugueses ficariam honestos por não terem ninguém a quem aldrabar.

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Sem o estado, milhões de portugueses acordariam sozinhos.

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Sem o estado, milhões de portugueses não teriam desculpa.

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Eu, que sou um jovem de boas famílias, e que cultivo a liberdade bem como a isenção intelectual, quando olho para o exemplo do Saraiva, do Pacheco e de outros como eles, verifico, que a isenção neles é inegável. Convém é não perguntar de que são isentos, porque, se perguntarem, eu digo. Ok. Vejamos o Saraiva que vai ser obrigado a pagar um milhão de euros (Deus queira que sim, haja justiça!): sem querer defender o jovem que tinha tacho lá para as bandas da PT, nem sequer os da sua laia, a verdade é que o trabalho do jornal “O Sol”, foi, a todos os títulos isento — isento de qualquer referência à ética jornalística. Perguntas, e perguntas bem: - “meu jovem Paulo, acaso leste as peças jornalísticas em causa?”, e eu digo: - “não, não li!, e depois? Acaso as ditas peças apresentavam um único indicio de algo que ali pudesse ser louvado? Ora, pois claro que não! Aquilo foi idêntico, ou copiado, ao malogrado “Jornal Nacional” e, meu caro, qualquer pessoa digna faria o mesmo: simplesmente não leria aquela porcaria”. Pois é (ponho o monóculo), embora jovem, ainda sou do tempo em que a ética ainda não tinha voltado a ser tal como era antes de Sócrates, isto é: ajudar os amigos e tramar os inimigos.

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O que acontece quando dois portuguesinhos patetas fazem força para pensar? Tentam apoucar ou desdenhar alguém que não é só adversário, não é só quem discorda deles, é acima de tudo e apenas, o inimigo. Os portuguesinhos patetas têm um único pensamento e são militantes nele: só pensam em destruir; penso mesmo que só vivem para isso, e para mais, encontraram na Internet, o lugar para ter os orgasmos que provavelmente não conseguem na vida real. É, pois, caso de demência. Adiante. Orgasminhos à parte, às tantas, os escribas espanta-me ao falarem de ética (não importa em que contexto), palavra que na sua boca devia queimar. Ora, para um portuguesinho pateta, não existe ética, não existe moral onde não existe amor à verdade, e não existe amor à verdade onde não existe a paciência de a ir buscar. Quando estes senhores tão desacompanhados de seriedade, tratam de perder tempo em deambulações para consagrar-se à tarefa auto-assumida de "fazer sangue" a inimigos que só existem na sua cabeça demente; de moldar o mundo à sua imagem e semelhança, de derrubar alguém e inventar histórias, a sua consciência já está ao nível do cabo de partidos e dos incitadores de desordens. Nesse momento, costumava dizer Eric Voegelin, os personagens mais desprezíveis e caricatos, que numa situação normal seriam votados ao esquecimento ou ao ridículo, adquirem súbito relevo como encarnações literais e rasas dos caprichos da multidão enfurecida que, na desorientação geral, se afirmam como um "Ersatz" do bem e da justiça. Daí a publicar em livro as suas excrescências vai um passo. É evidente que tudo isto está controlado, enquanto estivermos a falar de doidos que escrevem em blogs, pois os doidos que por aqui escrevem e os que por aqui passam (excepto alguns como eu), também não saem daqui para lado nenhum, tal é o medo de serem arrastados por uma qualquer camioneta de recolha de bichos e bichas com raiva. Ora, noutras épocas, esta gente, que adivinho de estrato social humilde que, pelos seus méritos e esforços pessoais, se elevava acima de seus pares sem perder o elo de alguma fidelidade com o meio de origem, era obrigada a escrever em jornais, hoje, está condenada a escrever em blogs, enquanto beneficia de um emprego público qualquer. Hoje, ou é um diplomado que se disfarça de proletário, a imitar no vestuário e na fala dos pobres (o que é no mínimo um desrespeito), ou é algum filho do acaso, que, vindo de baixo e desfrutando à larga de seu novo padrão de vida, insiste em conservar e alardear com orgulho sua condição originária de pessoa de poucas letras, choramingando sua exclusão dos meios "elitistas" e promovendo a identificação, altamente difamatória, da pobreza com a ignorância. Pois é, dói muito não ter tempo de antena.

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Que diabo! Se pensas tão mal dos teus compatriotas e não podendo emigrar (era só o que faltava), que pode tu desejar deste país? Simples: que se torne liberal e que o Estado deixe de meter o bedelho onde não é chamado. Cada um por si, e sem mamas postiças, sff.

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Só em Portugal é possível a alguém, que recebe uma choruda pensão do estado, ainda por cima desde os 47 anos de idade, dizer, a plenos pulmões, e sem se rir: que reduzia os vencimentos de quem trabalha em 20% ou 30 %, sem mais explicações.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

sábado, 17 de julho de 2010

sexta-feira, 16 de julho de 2010

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Quem hoje olhe para o actual estado da nação, e postas as realidades económicas de parte (quanto a essas resta esperar pelos motores do costume), quem poste os olhos nesse quadro, vê: o já velho Sócrates a posar junto do nefando Santana Lopes, o segundo como protótipo mesmo do bedel em que o primeiro se transformou aos olhos de uma opinião pública essencialmente jornalística (de opinião), que, de régua em punho, mantém sob severa pressão os nossos órgãos interiores, a ponto de mais cedo ou mais tarde o vómito que dali tiver inicio, ser de dimensões nunca antes vistas. Ora, o português comum, imbuído de umas tantas crenças pela educação e pelo exemplo não pode mesmo receber senão com indignado espanto a ideia que se atribui ao seu governante. E assim, uma nova crença vinda do espanto é apresentada como se apresenta um apóstolo da unidade, ou se apresenta aquele a quem todos costumavam encarar como um guardião da esquizofrenia. Assim vão os nossos tempos, não tão diferentes d’outros, em que se torna de forma useira à (apesar de tudo) contestada imagem estereotipada que o tempo e a cultura de almanaque consagraram como uma verdade adquirida em Portugal. Ela remexe velhas feridas, cicatrizadas por uma longa sedimentação de preconceitos, mas, nem assim, deixa de quando em vez de estar na moda.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

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O feito de escolher alguma coisa, é triunfar sobre a perplexidade e arrojo de enfrentar o verdadeiro ou falsificado; mas, também, é vislumbrar a trilha da nossa matriz cerebral. Nessa empreitada vamos seguindo a seleccionar influências segundo uma escala de prioridades sensatas, na esperança que essa escala alimentada a l'esprit de finesse, diminua a natural propensão a guiar-nos pelos sinais enganosos do brilho momentâneo. Assim, numa espécie de acerto de contas com a minha trilha cerebral, diria: preferir Holderlin a Victor Hugo, preferir Rilke e Yeats a Marinetti, preferir deificar Husserl (respect) a outro ser humano qualquer e preferir detestar Jean-Paul Sartre a outro ser humano qualquer. C'est ça!

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O "Admirável Mundo Novo" está para as modas intelectuais da década de 30 do Séc. XX, como "A Ilha" está para utopias psicoterapêuticas e orientalistas dos anos 50-60, corporizadas mo movimento cultural "New Age". Aldous Huxley antecipou duas vezes... o Francisco Louçã!

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Reler o “Admirável Mundo Novo” do Huxley e finalmente intuir: isto não é uma utopia, uma especulação sobre um futuro possível; trata-se, outrossim, duma percepção antes de tempo do nexo entre uma pluralidade de modas e escolas de pensamento que floresciam na época em que o romance foi escrito, e que constituem a matriz, não somente do mundo possível no século VII d.f. (Depois de Ford), mas do mundo em que vivemos hoje. Huxley, com efeito, percebeu não só a unidade subjacente às idéias dominantes do seu tempo, como antes de tempo desvendou o nosso modo de existir actual que contempla pessoas como o Francisco Louçã: não é o Louçã um cocktail determinado por concepções de Lenin e Ford, Margareth Mead e H. G. Wells, Malinowski e Pavlov?

sábado, 10 de julho de 2010

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Aos que andam muitos preocupados com os efeitos imediatos do veto do governo ao negócio da china de que mais se fala, convém sempre lembrar o velho e sábio Bastiat. "Entre um bom e um mau economista existe uma diferença: um detém-se no efeito que se vê; o outro leva em conta tanto o efeito visivel como aquele que se deve prever". (In Ensaios)

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A pergunta é simples caro Jeeves, old horse: querem continuar com essa treta da diferenciação positiva e quotas por tudo e por nada? Querem mesmo? Mesmo, mesmo? Depois não se queixem se ficarmos reduzidos a isto, ok?

Ana Vidovic

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Luc Ferry é um pensador por quem tenho respeito. Não concordo com a maior parte do seu pensamento, mas, ainda, penso que cumpre bem a função de pensar o mundo e fazer-nos pensar com ele. Daí o respeito que não sinto por qualquer um da área dele, mas deste sim. Num dos exemplos que lhe é recorrente para explicitar a necessidade do homem adoptar uma nova crença sem Deus, aceitar a condição de mortal e ainda assim caminhar rumo ao "outro mundo possível", é a fábula do Ulisses de Homero. Precisamente quando o herói regressa vitorioso da guerra de Tróia e é raptado por Calypso, perdidamente apaixonada por ele; Ulisses prefere o regresso à pátria e à sua família, ao invés de conservar eternamente a juventude no colo da deusa. Diz Ferry, que a escolha pela mortalidade, a preferência da vida mortal repleta, a uma vida imortal triste, é a "escolha". É um respeitável optimista total este Ferry. Acontece, no entanto, que homem já exerce controle sobre muitas coisas na vida; pelo menos sobre o suficiente para que ele, homem, para além de tudo, ainda seja herói duma fábula grega. Duas coisas: por um lado, é estranho o recurso à fábula, aos contos de fadas, para negar a existência de Deus e da imortalidade; por outro lado, não estranha que o discurso dos materialistas seja tão circular para fugir ao paradoxo: não gosto de ervilhas, porque se gostasse de ervilhas tinha que comer ervilhas e eu não gosto de ervilhas. Não esqueçamos que o que Ulisses faz é a escolha entre imortalidade infeliz e mortalidade feliz, optando por esta; assim como o Luc Ferry pode optar entre acreditar na imortalidade da alma (coisa que o deixaria extraordinariamente infeliz) e a mortalidade (resta saber se feliz). Todos, aliás, temos essa escolha. Não ouvirão nunca da boca dum católico que os ateus estão proibidos de serem ateus. Agora este livro sobre a família: Luc Ferry, acompanhado por uma imensa mole de idiotas úteis, proclama a família moderna baseada no amor e na diversidade, contrapondo-a à família dita burguesa baseada na hipocrisia. De certa maneira tem razão, mas não toda. É que a meu ver a família dita burguesa é a mesmíssima família moderna: diferente apenas nas escolhas, designadamente permitindo casamentos homossexuais; e diferente no seu tónus democrático. Agora isso não significa que tenha ganho o amor. Nada. Aliás, pela taxa de divórcios poder-se-ia garantir que o amor é uma realidade que carece de prova. Ora, a família é uma instituição onde devem imperar limitações. Sff não se confunda a instituição família com a decadente família burguesa onde a cama do casal era partilhada com a cama da puta no bordel e a mulher era constantemente diminuída no seu papel. Não, a família é uma prática que torna a vida romântica e cheia de excitantes imprevistos e é a existência de grandes e nítidas limitações na família que nos obrigam a fazer frente a coisas que nos desagradam e que não esperamos, e com isso crescemos homens e mulheres bem formados. É em vão que alguns pedantes modernistas se queixam da família dizendo que cria ambientes hostis. Ora, estar no mundo é estar num ambiente hostil tal como era hostil o mundo para Ulisses e o obrigou a tomar uma opção — concluindo-se que termos nascido e estarmos vivos é o equivalente ao drama de Ulisses e a sua opção pela família. A família é a mais importante de todas as limitações e moldes que dão forma, ou que criam, a poesia e a variedade da vida. Daí ser tão mal compreendida pelos modernos, pois imaginam que o romance sairia mais perfeito dentro de absoluto estado de liberdade. Chama-se a isto a busca (a todo custo) da fórmula de um mundo sem limites do “melhor mundo possível”, isto é, um mundo sem contornos, um mundo sem formas definidas. Uma espécie de infinito. Negam a família cristã porque não aspiram a ser tão fortes como o universo, quando o que realmente aspiram é que o universo inteiro seja tão frágil quanto eles. Luc Ferry, obrigado pelo esforço, mas este jovem não aceita.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

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Por mil póneis!, lembrei-me disto ind'agora: como diabo sabe o Louçã que o cinto do Bava não aperta? Que não aperta!, nunca? Tens a certeza Ó profeta de "Um outro mundo possível"? Para o Louçã, "Num outro mundo possível", todos, sem excepção, apertariam os cintos. Não é que ele deve estar carregado de razão!

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Sem dúvida alguma, este colectivo , gosta mesmo de se entreter com a teoria geral sobre a capacidade dos anjos se equilibrarem em agulhas. Porquê? Pode-se bem dar o caso que estejam a ser devotos à causa deles. Assim uma espécie de união ateia e devota em penitência. união ateia e devota, hum… I sayjolly good”, andKinky, very kinky, old chap!” Ora, porque carga d’agua viria um emproado qualquer (como eu) escrever o diabo, sobre tais criaturinhas de Deus? Tantas são as criaturas de Deus: um rouxinol, um colibri, um minimo elefante é criaturinha de Deus, que dizer de pessoas e até energúmenos... são ainda e sobretudo criaturas divinas. Que uma criaturinha de Deus não se reveja em Deus, essa é outra conversa.

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Entretanto, vou falar de mim um bocadinho na terceira pessoa e de forma emproada com o monóculo posto: o Paulinho – my man, you Know – is really a most extraordinary chap. So capable, honestly. Chega. Bem, perguntas tu: - “porque estás tão contente contigo próprio, meu jovem Paulo?” – e perguntas bem. Para te responder, recorro ao mestre Chesterton; ponho novamente o monóculo e disparo: - “my old horse”, para que a vida seja novelesca ou romântica, é preciso que pelo menos grande parte dela nos tenha sido imposta, ok? Essa é a condição do cavalheiro, que o disposto seja posto para nós sem a nossa autorização. Se queremos que a vida seja um sistema bem ordenado de coisas que se encaixam umas nas outras como as matrioskas russas, ela pode transformar-se num suplício; mas se queremos que ela tenha a incerteza do drama, então, meu caro, será condição essencial procurar as virtudes do cavalheiro: orgulho e humildade que nos tornam capazes.

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"Good morning, sir", said Jeeves. He put the good old cup of tea softly on the table by my bed, and I took a refreshing sip. Just right, as usual. Not too hot, not too sweet, not too weak, not too strong, not too much milk...

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Quando oiço um jovem comunista, daqueles arrogantes que brandem ambos os braços e juntam o polegar ao indicador apoiando o cotovelo para dar enlevo e força à voz pífia e à cara inexpressiva onde não entrou lâmina de barbear (ufa), a exclamar ter encontrado a solução para os males do mundo, penso para comigo: “já não constituem nenhuma novidade”. As minhas células cinzentas já estão fatigadas deste tipo de discurso de retardado, e daí, ouve um e é como se tivesse ouvido todos. Mas, depois, quando a refrega sossegou e vou para casa no 27, vejo um cartaz onde o PCP reclama ter mais mil novos inscritos. Para tudo! Penso, não posso deixar de parar de pensar, no perigo que estes pequenos ditadores representam. Não é exagero: quem como eu fez recentemente uma pós-graduação numa universidade onde o ambiente académico, sobretudo os professores, disputa as jovens cabeças com Marx e Durkheim; onde basicamente se tenta higienizar o espaço mental numa espécie de grade curricular tributária da revolução francesa; e onde se bate no ceguinho liberalismo como se o tal “outro mundo possível” tivesse sido descoberto ontem e não tivesse ocorrido, sei lá, o seu fracasso; tem que parar, escutar, olhar para um lado e outro, e, exclamar: medo!

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Sejamos francos e que me entendam bem: eu não nego que os mais fracos devam ser, não somente protegidos contra os abusos dos mais fortes, mas ainda ajudados por estes últimos, não; o que afirmo é substancialmente diverso, e é que eles não devem ser preferidos e escolhidos apenas porque são como são, que diabo. Que a incapacidade, e, por maioria de razão, o parasitismo e a insipiência não devem ter direito a tratamento de favor. Ora, quem ouve os nossos políticos de ambos os sexos, e de várias tonalidades partidárias (não politicas, porque a bem dizer são todos à sua maneira social-conservadores) chega à conclusão que não bastava termos uma sociedade de tarados, que defende tudo e o seu contrário, dependente do lado para o qual acordam, como essa sociedade de tarados se transformou numa empresa de decrépitos de mão estendida.

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Reparem bem: um tipo que se afirma como liberal clássico ou conservador à americana (libertário), jamais, repito, jamais, pode ser funcionário público ou almejar uma carreira na função pública. Ponto. Da mesma forma, todos aqueles, e são muitos, que defendem o liberalismo e coiso e tal, sendo professores tipo holofote em universidades públicas, altos quadros do banco de Portugal e outros que tais, não passam de meros tarados. E que dizer dos comentadores liberais que defendem a privatização da RTP à segunda e vão lá comentar à terça? Numa palavra: tarados.

Do paraíso alternativo:

Esqueça a foto da pin up lusa (seu tarado) e acredite, old horse. O teu (meu) país em rápidas e sombrias pinceladas: é justamente a terra da Amália, do Eusébio, do Vasco Santana e Ribeirinho; ah! e da simpática rainha Carmen Miranda, mas essa deu em brasileira, ou, em portuguesa à solta (assim dessem todas). Não é esta a imagem positiva deste país? Não é uma espécie de paraíso alternativo para os tarados do universo?

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A propósito de portuguesas à solta e tal e da pin up ao lado, direi que este país ganharia muito se ela fosse adoptada tal como está (vestuário, pose e a bola) como imagem da nossa república em substituição do mono nada erótico que temos. estás a ver não estás? A Assembleia de República, nos raros encontros entre deputados (estão sempre fora em viagens politicas), no bar ou café ali ao lado dos "passos perdidos"; e os telefonemas domésticos implacáveis que os intimam a voltar para casa, interrompendo os seus animados discursos a favor da liberdade, democracia representativa, estado de direito, propriedade privada, pois… Fantástico não?!


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Por fim um elogio sentido à pin up. Aliás dois. Não usa cilicone nas bazoongas (mil pontos), e usa um reforço de fio dental verde para compor o ramalhate nacional, ou como quem atira: não sou peituda mas sou tesuda! (pontos mil).

A era da grande instabilidade, dizes?

Ok caro, já sabemos como funciona. Mais um para nos Roubini a carteira. Mas agora troque de posição; e conceba um jovem comum, como eu, bem educado ou homem letrado com formação superior numa escola pública ou faculdade, quando dá de caras com um livro como este (na imagem) — digamos, um livro que nos ajuda a prevenir saraivadas económicas como a actual crise; um livro de auto-ajuda, portanto. -"Vem mesmo a calhar!" - diz o jovem que eu sou; e mais, ainda digo que de nove hipóteses em dez, este jovem bem-educado (eu) não sabe o que irá encontrar naquele precioso volume: pensa que irá encontrar uma lição sobre a capacidade de vencer as crises com política, sociologia, forma de governo, enfim, uma série de noções científicas e abstractas que estão sobre a mesa – a menos que o autor seja demais e inove, bah…querias! - no nosso adorável (como um porco espinho) espírito do tempo? Aliás, encontrará tudo aquilo que poderia ser aconselhado por um crente do “Socialismo”? Um Manuel Maria qualquer? Para quê, então, não me poupar à descoberta de mais uma dourada e fervilhante lição sobre a capacidade dos anjos se equilibrarem em agulhas. Porquê?

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Quid?

Posso odiar a humanidade e amar o próximo?
E detestar o próximo e amar a humanidade?

Paradoxal, eu?

Como Chesterton eu não sou liberal apesar de ser católico,mas, ainda, sou liberal precisamente por ser católico. Embora reconheça na receita do liberalismo teórico um mesmo pecado original que encontro em todos os outros “ismos” pós-Kantianos – a sobrevalorização do indivíduo (neste caso, positiva) –, não consigo encontrar uma outra receita que se adeqúe mais perfeitamente à minha necessidade espiritual.

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Foi o pecado original do liberalismo, no que não difere de todas as correntes de pensamento modernas, que levou à separação da família liberal e à cristalização de correntes liberais tanto no socialismo como no conservadorismo. O facto da maioria identificar os liberais com os conservadores tem duas explicações: em primeiro lugar uma explicação óbvia de tão simples e que tem que ver com o facto dos conservadores nunca terem tido ninguém à altura para pensar o seu sistema, ao invés, adoram fazer alarde com pensadores liberais; em segundo lugar uma explicação mais complexa e que tem que ver com o sistema que apareceu após as duas grandes guerras, sobretudo nos anos 50 e 60 do século passado. Nessa altura, o mundo bipolarizado entre um “primeiro mundo” industrializado e capitalista e um “segundo mundo” industrializado e socialista, vamos dizer assim para simplificar, assistiu ao “endeusamento” do paradigma económico. A geometria estática da altura e mais ou menos previsível, antepunha projecções lineares ou balísticas do passado quer se sustentassem numa filosofia de economia de planificação central e de industrialização intensiva, quer na crença de um crescimento imparável e na emergência da modernidade industrial centrada na configuração do Estado-Nação, na razão providencial (do estado de bem-estar social) e nas relações de troca efectuadas num mercado dinâmico, estruturado em função do aparelho produtivo por um lado e nos consumidores por outro. Num contexto de optimismo internacional o peso que a economia veio a ter fez com que muitos (ligados ao capital e ao ocidente industrializado) se dissessem liberais como defesa do laisser faire, ou seja, apenas para garantir o modelo da economia capitalista. Tudo isto teve uma consagração mais ou menos dramática num sistema constituído pelo conjunto de "nações industrializadas" reunidas sob a égide da OCDE, a qual, passou a liderar sobre os principais factores mundiais de crescimento: capital, ciência e tecnologia, o trabalho, mercados de bens e serviços, concepções de gestão; todos conjugados afinal para a obtenção do chamado “pleno emprego” e geração de altas taxas de rentabilidade social e privada. Temos pois que grande parte dos que se dizem liberais são até apenas sociais-democratas, socialistas portanto.

G. K. CHESTERTON — an author review:

From about 1905 to 1925, three of the most prominent popular intellectuals in England were George Bernard Shaw, H. G. Wells, and G. K. Chesterton. Both Shaw and Wells are still considered important figures, but Chesterton is remembered, outside of conservative Catholic circles, only as the author of some early mysteries.
The reason is not the quality of what Chesterton had to say. Those of his views which seem odd to a modern reader are mostly ones he shared with his opponents and with much of the advanced opinion of the time. The positions which distinguished him from those around him, in particular his distrust of socialism, paternalism, and the general philosophical trends of the late nineteenth and early twentieth century, look more and more convincing with every decade that passes.
Shaw and Wells, however wrong and dangerous their visions of supermen and scientific or socialist Utopias have turned out to be, were 'left', therefore progressive, and therefore significant. Chesterton was not. He was a radical liberal in the nineteenth-century tradition, what would now be called a libertarian—a believer in private property (and its wide distribution) who denied that the only alternatives were socialism or the status quo. As he put it: "I am one of those who believe that the cure for centralization is decentralization. It has been described as a paradox. There is apparently something elvish and fantastic about saying that when capital has come to be too much in the hands of the few, the right thing is to restore it into the hands of the many. The Socialist would put it in the hand of even fewer; but those people would be politicians, who (as we know) always administer it in the interests of the many."
Chesterton was not a conservative; in one of his debates with Shaw he pointed out that his opponent was spending a good deal of time attacking "the present system of industrial England... Who except a devil from hell ever defended it...? I object to his Socialism because it will be . . . devilishly like Capitalism."
That sounds paradoxical; when you have eliminated capitalism and socialism what remains? But to Chesterton 'Capitalism' did not mean private property and individual liberty. It meant what he believed he saw around him—a society dominated, economically and politically, by capitalists, in which most people worked for large companies, bought from large monopolies, and read newspapers controlled by a few millionaires—who were, by a curious coincidence, the friends, supporters, and relatives of the ruling political establishment. He accepted much—perhaps too much— of the socialist critique of the then current state of England, while arguing that the socialists' cure went in precisely the wrong direction.
The response of many of his critics was to claim that Chesterton's ideas were simply out of date. He responded that date was irrelevant: "We often read nowadays of the valour or audacity with which some rebel attacks a hoary tyranny or an antiquated superstition. There is not really any courage at all in attacking hoary or antiquated things, any more than in offering to fight one's grandmother. The really courageous man is he who defies tyrannies young as the morning and superstitions fresh as the first flowers. The only true free-thinker is he whose intellect is as much free from the future as from the past. He cares as little for what will be as for what has been; he cares only for what ought to be."
Chesterton did not limit his unpopular views to politics. In religion he began his intellectual career as an agnostic of vaguely Christian inclinations, became a more and more orthodox Christian, and towards the end of his life converted to Catholicism. If he had chosen his beliefs with the deliberate objective of offending contemporary intellectual opinion he could scarcely have found two better suited to the purpose than nineteenth-century liberalism and Catholicism. Perhaps what is surprising is not that he is generally forgotten but that his books have not yet been publicly burned.
When I first discovered Chesterton I was already a libertarian. I enjoyed his political essays while being puzzled and intrigued to find him defending, with equal intelligence and persuasiveness, Christian and even Catholic orthodoxy—ideas which seemed as indefensible to me as his (and my) political views seemed to everyone else. It was still more intriguing to learn that he was a Christian not in spite of being a libertarian but because of it. In trying to find a secure basis from which to defend his political position, and indeed his whole view of reality and man's place therein, Chesterton, by his own report, found himself pushed step by step towards Christian orthodoxy. Asked why he believed what he did, he replied:
"Because I perceive life to be logical and workable with these beliefs and illogical and unworkable without them."
Modern libertarians will find that a strange claim; despite a small minority of Christians, most vocal libertarians today seem to be either agnostics or atheists. So far as my own intellectual experience is concerned, I have not, despite my admiration for Chesterton, become a Catholic or even a theist. I have, however, found myself forced step by step into a philosophical position that might be described as Catholicism without God—the belief that statements about right and wrong are true or false in essentially the same way as statements about physical reality, that 'one should not torture children' is a fact in very nearly the same sense as 'if you drop things they fall'. I will not try to defend that conclusion here, but I think it worth recording as evidence that modern readers, especially libertarians, should take seriously Chesterton's claim concerning the connection between his political and religious views.
In arguing that Chesterton's current invisibility is due more to our faults than to his, I must deal with one serious charge often made against him—that he was anti-semitic. It is, I think, exaggerated but not entirely without foundation. The accusation arises in part from his association with two other writers, his brother Cecil Chesterton and his friend Hilaire Belloc, who may well have been anti-semitic, in part from an accident of Chesterton's personal history, and in part from an important element of his political ideas.
The historical basis was the Marconi Affair, a political scandal in which a number of government ministers made money speculating in the stock of the American Marconi company, apparently taking advantage of inside information that the British Marconi Company was to be awarded a government contract to build a chain of wireless stations. Cecil Chesterton wrote a series of vituperative articles attacking several of the principal figures, was sued for criminal libel, conducted his own defense (incompetently) in the belief that the ability to argue was an adequate substitute for knowledge of the law, was convicted and briefly jailed. Three of his opponents in the case, Godfrey Isaacs, a director of both the British and American Marconi Companies, his brother Sir Rufus Isaacs (later the Marquis of Reading), then Attorney General, and Herbert Samuel, the Postmaster General, were Jewish.
G. K. Chesterton was very much affected by the case, partly because of the threat to his adored younger brother and partly because the attempt by the (Liberal) government to cover up the scandal and squelch dissent was to him symbolic of the abandonment of Liberal principles by the Liberal party. As he put it somewhat later "more than I ever did, I believe in Liberalism. But there was a rosy time of innocence when I believed in Liberals."
One result is that when villains in G. K. Chesterton's stories are rich and powerful, they are also quite likely to be Jewish.
A more important element in Chesterton's attitude towards Jews was his view of nationalism. He was an anti-imperialist and 'little Englander' who believed that patriotism was an appropriate attitude for small countries, not empires. When Britain attacked and annexed the Boer Republics of South Africa, he was pro-Boer. Later, commenting on World War I, he wrote: "I myself am more convinced than ever that the World War occurred because nations were too big, and not because they were too small. It occurred especially because big nations wanted to be the World State. But it occurred, above all, because about things so vast there comes to be something cold and hollow and impersonal. It was NOT merely a war of nations; it was a war of warring internationalists."
What does this have to do with anti-semitism? For the answer one must read 'The Problem of Zionism', a 1920 essay which contains both ammunition for attacking him as an anti-semite and evidence that he was not. Its central thesis is that the 'Jewish problem' comes from the fact that the Jews are a nation in exile, so that British Jews, French Jews, or German Jews are not really Englishmen, Frenchmen, and Germans. Ignoring the problem will not make it go away; the solution, if any solution is possible, is to establish a Jewish state.
One difficulty with doing so is that the non-Jewish inhabitants of Palestine view Jews with suspicion, precisely because of national characteristics such as the tendency to be bankers instead of blacksmiths and lawyers instead of farmers, which have resulted from their exile. In order for Israel to work, "The modern Jews have to turn themselves into hewers of wood and drawers of water. . . . It will be a success when the Jews in it are scavengers, when the Jews in it are sweeps, when they are dockers and ditchers and porters and hodmen."
Chesterton recognized that this was precisely the ideal of some of the Zionist settlements; commenting on the collision between the anti-semitic stereotype and the Zionist ideal, he wrote: "It is our whole complaint against the Jew that he does not till the soil or toil with the spade; it is very hard on him to refuse him if he really says, 'Give me a soil and I will till it; give me a spade and I will use it.' It is our whole reason for distrusting him that he cannot really love any of the lands in which he wanders; it seems rather indefensible to be deaf to him if he really says, 'Give me a land and I will love it.'"
It is an extraordinary essay; the best, perhaps the only, way to understand in what sense Chesterton was either anti- or pro-semitic is to read it in full. It is easy to extract chunks which appear anti-semitic, such as his half serious suggestion that Jews be freed from all legal restrictions save one, the requirement that they dress like Arabs in order to remind themselves and their hosts of their essential foreignness. It is equally easy to find passages that could have been written by a Zionist. I found his assertion that Jews are foreigners in the countries where they live, which seems very odd to an American, less shocking than I might have precisely because I had heard it first from European Jews.
Such arguments sound somewhat different from an outsider, yet I think it would be hard to read the essay with an open mind and not end up admiring Chesterton for his attempt to deal honestly with what was and is a difficult problem. And it is worth noting that he applied the same principles to himself. His eventual decision to convert to Catholicism was a decision to identify himself with a group viewed, by most Englishmen, as alien and suspect. He was defending the same principle—the idea that national groups should be themselves and not poor imitations of someone else—when he criticized Indian Nationalism for being "not very Indian and not very national"—in an article read by a young Indian student named Mohandas K. Gandhi.
What most sharply distinguishes G. K. Chesterton's writing from that of most other ideological writers, before and since, is its essential sanity and good humor. His ideological opponents, even the villains of his fiction, are neither devils nor fools but fellow human beings, in many ways admirable, whose views he thinks mistaken. In both his debates and his novels the ultimate objective is not to destroy those who are in the wrong but to convert them.

By David Friedman, in The Machinery of Freedom

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Dois poetas:

Sete anos de pastor*
Camões


Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
lhe fora assi negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida,

começa de servir outros sete anos,
dizendo: “Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida.”

*Publicado pela primeira vez em 1595, quinze anos após a provável data da morte do poeta.

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Primeiro Fausto
"Primeiro tema: o mistério do mundo": VI
Fernando Pessoa

Ah, tudo é símbolo e analogia!
O vento que passa, a noite que esfria,
são outra coisa que a noite e o vento —
sombras de vida e de pensamento.

Tudo o que vemos é outra coisa.
A maré vasta, a maré ansiosa,
é o eco de outra maré que está
onde é real o mundo que há.

Tudo o que temos é esquecimento.
A noite fria, o passar do vento,
são sombras de mãos, cujos gestos são
a ilusão madre desta ilusão.

Porque és do partido A e não do B:

Acaso ofende assim tanto alguém dizer que entre a esquerda e a direita está acima? Desde quando formular a questão de maneira um pouco mais inabitual sem deixar de ser precisa é motivo para se ser julgado ou levado menos a sério? Ora, pessoalmente, vejo na postura blasé e pedante de quem quer se mostrar “acima do debate” e ensaia a fuga para a frente, batendo no peito que é isto ou aquilo, apenas uma confusão dos tempos modernos em que se confunde termos e se chafurda na coisa burguesinha que são os grupinhos em que se nasceu ou se pelejou para ser aceite. Ah, isso leva-nos a outra atitude malsã que é negar o clube do partidarismo. Esse então, ui ui. É que mesmo admitindo-se que é inteiramente natural haver tensão entre as vagas definições (mais sensações, na verdade) políticas aceites pela comunidade e as auto-definições do indivíduo (que acontecem, quando chegam a acontecer, após um longo período de maturação), mesmo assim, todos acham assim tão natural a existência de juventudes partidárias?!


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Não estranha pois a ausência de critérios explícitos até em gente que deveria ter juízo. Por exemplo quando a conversa é sobre a economia e o actual estado da economia ou formas de se sair da crise. Muitas vezes oiço e leio de opinativos variegados críticas a este ou aquele sistema ou opção, que são a bem dizer, apenas a verbalização de simpatias ou antipatias de clube, como se a conversa andasse em torno das qualidades intrínsecas de se ser benfiquista, sportinguista ou portista. A crítica económica também depende de argumentação e prova; por alguma razão, os delicados espíritos que se julgam muito nobres por estarem sempre do contra só porque sim, costumam ter aversão à ideia de ter que provar (ou ao menos tentar provar) alguma coisa, como se isto fosse uma profanação terrível da sua preciosa experiência ou visão saturnina de vida. E, ainda que seja saudável desprezar a opinião que trata a situação do país como um cadáver, isto não significa que se deva subitamente abandonar o intelecto e valorizar uma opinião só porque ela conseguiu tirar o pseudo-opinativo, o comum leitor de blogues e jornais do seu permanente estado de letargia. O critério "se eu gostei, deve ser bom", que é o memo que dizer “se foi dito ou escrito por quem identifico como pertencente ao meu clube”, além de ser o mais egocêntrico possível, também destrói a possibilidade de uma diferenciação real das experiências, e com isso a ideia de que possa existir um fundo de esperança, uma esperança que possa, por ser esperança, actuar como mola para se sair de situações difíceis. Sem o desejo de tentar provar algo, os nossos opinativos são só uns palhacinhos que querem palco para atrair atenção, exactamente como um concorrente do “Big Brother”.


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" Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos."

By Nelson Rodrigues

terça-feira, 6 de julho de 2010

Ortodoxia e os "ismos":

G. K. Chesterton (na foto), escreveu o ensaio Ortodoxia como resposta a um desafio lançado pelos modernos do início do século XX, e a mensagem ali contida, surge-nos hoje mais do que actual. Depois de um final de século particularmente vitorioso para o capitalismo e um dealbar de século que confirma por quase KO essa vitória, vemos hoje, proliferar novamente um assanhado sentimento utópico e revolucionário - outrora exclusivo dos socialistas e comunistas. Por exemplo na internet: basta passear por certos blogues cujos autores se dizem de direita e dentro da direita se dizem liberais, e, vemos passar à nossa frente novamente a velha “ganga” de certezas inabaláveis e credos irrefutáveis; entre elas vem a certeza de que basta destruir o que existe (estado, instituições, uma golden chare, etc.) para florescer uma nova sociedade; não se cuida que tal desiderato, longe de constituir um caminho, é, ao invés, a estrada rumo ao cinismo e ao caos.

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Ora, se de alguma coisa já podemos ter certeza é de que não há certezas que nos valham. Hoje, o traço distintivo dos seres humanos é a incerteza. Tudo é incerteza meninos! Não sejam burros e oiçam: -“ não nos é possível, de todo, ignorar a diversidade, a imensa diversidade, e, apresentar uma solução absoluta, que teria de ser imposta, ok?! Chega-nos a história do século XX como exemplo acabado e recente, dos resultados de décadas de lubrificação ideológica e revolucionária das cabeças pensadoras. Estou a falar de ideologia, utopia e revolução e não de ortodoxia, essa, a ortodoxia, continua a ser a resposta essencial ao desafio de todos os “ismos”, a começar por Kant (ou desde Kant) até agora.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Detective Stories:

Alvin Langdon Coburn
Broadway at Night
1909
Com um século já decorrido sobre esta fotografia, eis que ela surge-me num dia quente que adivinha muitos outros dias quentes pela frente, e, faz ter saudades do inverno. Não do inverno em si ou de um qualquer inverno; mas do inverno dos filmes de espionagem ou o inverno das histórias de detectives. Um inverno nocturno e de chuva miudinha, tão profundamente nocturno como profundamente misterioso. Ah, a Broadway no inverno, "at night", onde amei e fui amado por mulheres que só existem dentro de romances que eu teria lido se tivesse seguido o meu plano de ler mais romances de espiões e detectives ao invés de me ter ficado pelos filmes: desenrolam-se como um tapete felpudo diante dos meus passos imaginários. No fim da rua há um café onde paro para beber um bourbon minted tea. Da minha pasta "camel" retiro fotografias, e uma fotografia em especial ponho discretamente sobre a mesa e com isso chamo a atenção dum velho que na mesa ao lado vai levando à boca o que parece ser sopa.


Whatever:

A algum tempo que venho com a ideia de escrever um post em que um político subpoeta, ou poeta subpolítico, vagamente baseado no Manuel Alegre, seja a vedeta. Chego no entanto à conclusão, triste conclusão, que não é possível escrever um post nem coisa nenhuma sobre personagem tão ridículo; - “e depois” – dizes tu – “era tão tópico, tão actual escrever sobre o candidato poeta”. O candidato poeta ou "queremos um presidente poeta", são miminhos que me deixam com o vómito na boca. Irra! Ora, se alguém quiser escrever por favor escreva: não há nada tão engraçado como um político cujo nome se presta a trocadilhos como “pateta alegre”. Verdade seja dita: o tipo não aquece nem arrefece; é tão incompetente, até na arte de divertir, que só consegue entreter bichos-da-seda, militantes do bloco de esquerda e alguns eventuais socialistas. E eu, eu mesmo, é que ia postar aqui alguma coisa sobre essa caricatura? Como-é-mesmo-o-nome do gajo? Whatever. Já escrevi.

C´est le bordel!

Ok, é consabido que o Vasco Pulido Valente é uma criatura cheia de problemas. Um dos seus problemas maiores é, porventura, vogar num mundo só dele. Esse é um dos problemas de tipos como ele, aqui e em toda parte: o isolamento completo em que vivem. O jornalista? Escritor? Mero opinativo? O Vasco “Pulido” Valente consegue estranhar que o tenham metido em apuros judiciais, que existam pessoas que levem a sério e caprichosamente as suas diatribes caluniosas, e que, canhestras ou não, como se nunca tivessem ouvido insultos na vida, decidam dar com o bom e sincero Vasco com os costados na justiça, na iminência de desembolsar €100.000 dele. Adiante. Dando um pulo ligeiro e felino sobre quem acha aquela redução do pensamento (que é timbre do triste “tribuno” Vasco) um achado (“só é pobre quem quer”), a pergunta que se impõe é: aonde vamos parar se qualquer um pode debitar umas infantilidades, por cima caluniosas e um tanto abaixo de qualquer crítica adulta e séria, arrasando putativos inimigos só porque sim? O que principalmente chama a atenção neste texto todo é: a lata ser tanta que já não espanta!
Como já não espantam os tribunais e a justiça portuguesa, esse bordel
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A decadência afecta a mentira:

É certo e sabido que a Internet se transformou no fim da profissão de jornalista como a conhecíamos; não só porque se torna cada vez mais desnecessária a figurinha do tipo, como diria Chesterton, que escreve as suas nédias histórias a soldo de um qualquer capitalista ou director, mas, ainda, porque pelo menos a dignidade daquela pessoa se perdeu vai aí para uns 100 anos (jornalismo a sério só existiu até aos princípios do século XX), sem que a tenha recuperado, e, agora, agora, vai mesmo pelas vielas mais imundas e arrastada para a sarjeta mais nauseabunda. O mais digno e pomposo jornalista corre o risco de ser insultado, ou contestado por um qualquer sujeito cheio de razão. Não importa se o texto é solene, melancólico e magoado, se está escrito para provocar adesão e simpatia, não importa! Logo, junto das "focas" que batem palmas de contentes, existe o tipo esclarecido que põe a nu o texto, o seu autor e assim, assim, não há dignidade que resista. Mas pior que isso é que não há texto que resista. Comentários furiosos de leitores furiosos, comentários chatos de leitores chatos, comentários esclarecidos de leitores esclarecidos; a fúria, a chatice e o esclarecimento logo ali abaixo do texto a estragarem o efeito da coisa. Temos Pena.

Peter Cook - A Life In Pieces - A Partridge In A Pear Tree

sábado, 3 de julho de 2010

A minha bondade é muito maior do que a tua, asshole:

Sim, sim. Escuta, vou falar a sério agora. Entro no café das brasileiras onde normalmente bebo uma bica às cinco da tarde e sinto pena, pena de verdade – juro, juro – das meninas com as carinhas vazias de sofrimento, dos clientes outros que não falam, daquele tipo com cara de subdesenvolvido ali em pé no meio do café a olhar tristemente, estrabicamente, para a televisão. Dói imaginar com quanta expectativa todos os brasileiros emergentes encaram o mundial de futebol, planeiam festejos e ficam abertos a experiências novas como se fosse carnaval ou a passagem do ano. Mais, tenho sobretudo pena da brasileira peituda que é dona do café e, preparo mentalmente uma frase de conforto, do género: - “vai um abraço forte? A sério, encosta-os a mim”. Que mulher não gostaria de receber um conforto destes? Ein?

A Larissa é outro futebol:





Depois de Portugal ficou o Brasil, agora que esse se foi, sou pelo Paraguai. Corrijo: sou pela Larissa Reiquelme. Não, a sério, peço que se observe bem a Larissa. Reparem na posição, nas cores do traje, nos cabelos, na garganta a estalar de exultação, em "tudo". Em "tudo" que é suporte de telemóvel (por sinal igual ao meu. A pena que dá não poder ir lá falar de assessórios ou d'outra merda qualquer, aí!). Neste momento o amor jorra de mim como cuspe, é até melhor tu dares uns passinhos para trás. E num tom angelical a minha voz ressoa, besuntada de mel astral o écran do portátil e quem estiver por perto. Digo num perpétuo tom chorão, condoído e já sem dicção: Aí! Viva o Paraguai e viva, viva, viva Larissa!

Mais um pequeno episódio na vida dum país:

Em 2010 descobrimos finalmente com quantos paus se faz a utilização de uma golden share e fez com que alguém isoladamente ou em grupo desse três saltinhos suspirados. Outros, em uníssono, gritaram a plenos peitos: “que importa, se o gesto é belo?” Em que ficamos? A golden chare está aí e tem uso, aconteceu numa quarta. Quando chegou a sexta, os membros mais sóbrios da burguesia lisboeta – o banqueiro Fulano, o industrial Beltrano, o magnata da bolinha sagrada – consideraram o assunto e chegaram, cada um de pantufas, no canto mais privado das respectivas cabecinhas, à conclusão de que o mundo enlouqueceu e alguma coisa tem que ser feita. – “Chegamos ao limite imposto pelo bom-tom quando se perde tão bom negócio”. “Chega, chega”, disse Fulano em voz alta, enquanto punha pó de talco nos sapatos vela. “Se fossem dois milhões, eu riria até a segunda. Quatro milhões, até quarta. Um milhão apenas chega! Beltrano, meu caro – ao trabalho!”