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Não estranha pois a ausência de critérios explícitos até em gente que deveria ter juízo. Por exemplo quando a conversa é sobre a economia e o actual estado da economia ou formas de se sair da crise. Muitas vezes oiço e leio de opinativos variegados críticas a este ou aquele sistema ou opção, que são a bem dizer, apenas a verbalização de simpatias ou antipatias de clube, como se a conversa andasse em torno das qualidades intrínsecas de se ser benfiquista, sportinguista ou portista. A crítica económica também depende de argumentação e prova; por alguma razão, os delicados espíritos que se julgam muito nobres por estarem sempre do contra só porque sim, costumam ter aversão à ideia de ter que provar (ou ao menos tentar provar) alguma coisa, como se isto fosse uma profanação terrível da sua preciosa experiência ou visão saturnina de vida. E, ainda que seja saudável desprezar a opinião que trata a situação do país como um cadáver, isto não significa que se deva subitamente abandonar o intelecto e valorizar uma opinião só porque ela conseguiu tirar o pseudo-opinativo, o comum leitor de blogues e jornais do seu permanente estado de letargia. O critério "se eu gostei, deve ser bom", que é o memo que dizer “se foi dito ou escrito por quem identifico como pertencente ao meu clube”, além de ser o mais egocêntrico possível, também destrói a possibilidade de uma diferenciação real das experiências, e com isso a ideia de que possa existir um fundo de esperança, uma esperança que possa, por ser esperança, actuar como mola para se sair de situações difíceis. Sem o desejo de tentar provar algo, os nossos opinativos são só uns palhacinhos que querem palco para atrair atenção, exactamente como um concorrente do “Big Brother”.
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" Antigamente, o silêncio era dos imbecis; hoje, são os melhores que emudecem. O grito, a ênfase, o gesto, o punho cerrado, estão com os idiotas de ambos os sexos."
By Nelson Rodrigues
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