quarta-feira, 21 de julho de 2010

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Não existe nada mais português do que a critica fácil ao próprio português. É de certo modo banal a forma como qualquer português desata a apodar os restantes de bandalhos, vendidos e outros que tais. Certo porém, é que quem acusa nunca se inclui na crítica, como à volta, não existe português a dizer: - presente! Ninguém se sente representado, nunca.

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Portugal é um país tomado por imbecis de alto a baixo; reconheço como imbecil: o meu vizinho, a senhora das limpezas, o chefe e, em geral, os que comigo se cruzam. Todos rematados imbecis. Existe na imbecilidade lusa uma certa puerilidade. Tal pode ficar a dever-se ao Salazarismo, à “revolução” socialista ou a um qualquer mal genético que transporta a imbecilidade de pais para filhos; tão pueris na forma como entregam a vida e o seu destino a uma entidade abstracta como estado. Como se critica a família, a nossa família, assim se critica o estado ou Portugal; na verdade, os únicos portugueses minimamente decentes que conheci na vida, ainda que com um ou outro defeito de carácter, foram portugueses a viver no estrangeiro. Chega a ser lindo o amor patriótico que aqueles sentem por um país que, caso o habitassem em permanência, falariam tão mal dele quanto os outros que cá vivem.

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Não existe também nada que os portugueses gostem tanto de fazer quanto escolher um qualquer bode expiatório. O bode expiatório luso tem no entanto uma característica que faz dele caso único: pode passar em poucos anos, um ou dois (existem casos em que levou mais tempo), do estado de maior bandalho à face da terra, responsável pelos piores e mais funestos males que afectam a pátria, para o de bom, honesto, justo, casto e recto cidadão, um verdadeiro oráculo para onde as atenções e movimentos de cabeça se viram. É assim a loucura deste povo.

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Acaso já ouviste um português a contar o que disse e fez ao “outro”: ao patrão, ao doutor, ao mecânico ou ao vizinho? Já? Qual é a característica? Nenhum português, alguma vez na vida, admite que nessa conversa foi ele o humilhado e até foi ele quem “baixou a bolinha”. Nenhum!

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O português é alguém que bate no peito enquanto grita: - “sou honesto!”.

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O português é alguém que está sempre do lado de alguém, tem sempre uma facção: do mais forte!

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O português segue com fidelidade canina e de modo servil o mais forte e sabe que ele sabe que nisso não é sincero: os portugueses mais fortes foram sempre portugueses servis e caninos!

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Não há nada que cole mais a um português de ambos os sexos do que ser tiranete. Ser tirante é uma espécie de lavagem dos fígados por anos a baixar a cabeça. Para alguns trata-se de um prémio de carreira.

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O português é em geral um palhaço social. O português com um pouco de poder é socialmente um palhaço rico.

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Quando almoço com um português com um pouco de poder, qualquer espécie de poder, não consigo parar de imaginar aquela cara pintada de branco com um grande borrão encarnado nos lábios.

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O português tem um especial gosto em amesquinhar e apoucar os outros (portugueses como ele), desde que estejam um pouco abaixo dele na escala social ou profissional; contudo, esse mesmo que amesquinha e apouca, também é capaz de dançar à volta dele mesmo enquanto imita sons de pato se por sua vez alguém superior a ele mandar; e assim vai tudo a subir em espiral até ao topo numa comédia estilo BBC vida selvagem.

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Não à nada que mais excite um português de ambos os sexos do que falar mal de um outro que se oferece para qualquer coisa sem ser do grupo.

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A desconfiança do português é canónica.

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O português escolhe os amigos em função dos defeitos que reconhece nele mesmo; mas como normalmente não tem capacidade de auto-análise acaba invariavelmente atraiçoado.

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O português nasce velhaco. Aliás, a velhacaria é um traço genético no português.

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Os melhores portugueses foram e são aqueles que alguma vez se sentiram estrangeiros.

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A melhor forma que um português tem de se libertar da maldição de ser português é apanhar um autocarro pejado de portugueses. Ou um avião. Basta uma vez para ficar vacinado.

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Portugal não é um país, é uma pandemia de oito séculos.

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O português é um vírus improvável.

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Quando regresso do estrangeiro e cruzo a fronteira portuguesa, sinto que estou a entrar num laboratório onde foi entornado um tubo cheio de vírus.

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Um estrangeiro não visita Portugal para experimentar sensações fortes.

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Um português não visita um país estrangeiro para conhecer e ficar culturalmente mais rico; um português visita um país estrangeiro para contar a visita a outros portugueses, acrescentando sempre, qual Miguel Strogof, uma atmosfera romanesca. As histórias de viagens entre portugueses são uma espécie de troca de cromos ou contagem de pilas.

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Qualquer português tem sempre a solução: pegar na ultima gafe, na ultima trapalhada e generalizar aos restantes compatriotas, tendo o cuidado de se por de fora a ele e à sua gente: família, amigos (normalmente coleguinhas do colégio, escola, faculdade e por aí fora) e membros do mesmo clube politico, desportivo ou estrato social.

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Existe algum antídoto para o portuguesismo? Sim, conhecer o mundo.

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Só há dois tipos de pessoas que adoram Portugal: os estrangeiros idiotas e os portugueses estrangeirados; uns gostam com a inocência de quem desconhece, os segundos por malícia.

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Não existe país no mundo, onde, um tipo bem-nascido, rico, viajado, educado e culto, se sinta melhor do que em Portugal. É vê-lo salivar de tanta superioridade.

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O português comum detesta ser feliz e detesta ver a felicidade estampada no rosto de alguém. Existe mesmo uma fórmula eficaz de um português irritar outros portugueses: estar sempre de sorriso na cara, mesmo perante adversidades, pressões e chicotadas.

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Um português não suporta ser apodado de “portuguesinho pateta”.

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Ser português é qualquer coisa impossível tal é a profusão de tipos. No entanto, duas características: o português é aquele ser que possui a qualidade pachorrenta de um bovino com a pertinácia teimosa de um jumento.

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A velhice trás a um português aquela qualidade de se sentir ainda qualquer coisa que nunca foi, com uma vontade indómita de ainda ser qualquer coisa que ninguém lhe reconhece.

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Em Portugal até as elites são remediadas.

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Um partido político em Portugal é uma seita: propõe a salvação, o seguidismo acéfalo e uma dogmática ao mesmo tempo que radicaliza a diabolização do adversário.

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Dar uma oportunidade em Portugal significa tão-somente isto: és dos nossos! Daí que só os cretinos, os imbecis, em todo o caso, os muito portugueses dêem oportunidades. Os outros, os que alguma vez já se sentiram estrangeiros ou órfãos da sua nacionalidade, normalmente, não dão oportunidades a ninguém, ou porque a não tiveram, mas, ainda, porque são ricos e passam gostosamente longos períodos no estrangeiro.

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Ainda existe aquela fauna de ricos que apenas acrescentam ao ser português, o dinheiro. Vejamos aquela trupe que durante anos e com o beneplácito de um governo amigo se encheu e encheu os seus amigos, ora no BCP, ora no BPN. Todos sem excepção são portuguesinhos no seu melhor; alguns, com canudo em universidades conceituadas no estrangeiro (as segundas gerações), que, quais nababos, enriqueceram à conta da alma portuguesa, ou seja, não fora estarem em Portugal e nunca conseguiriam chegar onde chegaram.

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Para o português comum não existe nada que o deprima mais do que lhe dizerem que é um português comum.

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O português detesta ver portugueses que triunfam nas suas áreas. É como se aquele fosse o avesso do reviralho ou um português que se estrangeirou.

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No estrangeiro os portugueses são sempre escolhidos para chefiar um grupo de portugueses. Porque será?

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És português? – “Glup”!

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Porque será que os imigrantes quando nos visitam se esforçam por dialogar entre si na língua do país onde vivem? Ora, porque o sonho de qualquer português comum é um dia ser confundido com um estrangeiro.

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Da minha experiência, nunca conheci um português de jeito, só portuguesas jeitosas (antes de abrirem a boca).

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Qualquer português me provoca vómitos apenas ao abrir a boca, então, controlo a náusea respirando fundo e contando até três enquanto faço um sorriso.

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Portugal vive atolado de merda que impossibilita ver. Daí que quem se dedica à alma portuguesa, como o filosofo Eduardo Lourenço, tenha que viver no estrangeiro. Até o Manuel Maria Carrilho ficou mais sagaz desde que foi viver para Paris.

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O Pacheco Pereira representa na perfeição o ser português: o cão que regressa ao seu próprio vómito! Ao Pacheco perdoa-se tudo, excepto, ter vivido no estrangeiro tanto tempo e ainda conservar tanto do português comum.

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O António Borges pressentiu que se estava a aportuguesar e foi embora sem deixar de exclamar: - “Ufa! Foi por pouco!”. Já aos Vascos aconteceu uma calamidade (o Graça Moura e o Pulido Valente), com uma gravidade maior: o seu ar permanentemente zangado é de quem analisou a situação, mediu prós e contras e, ainda assim, preferiu continuar um português comum.

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O intelectual português com menos de quarenta anos trai-se assim que abre a boca ou deixa o primeiro parágrafo: está sempre a soldo de alguém. Ora, ser livre e ser português é uma contradição nos termos, tal como ser rico e talentoso antes dos quarenta o é.

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O português descobriu no telemóvel uma forma de escapar ao juízo de quem o acusa de ler pouco.

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O português nunca se liberta do telemóvel, até porque, em Portugal, é das poucas coisas que uma entidade patronal pode fazer para amaciar um trabalhador: dar-lhe uma forma de estar sempre contactável.

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O intelectual comum em Portugal descobriu a pólvora: na televisão põe um ar doutoral, compenetrado e imparcial ao dizer aquele discurso meio redondo, e, na net, esforça-se por ser o mais escatológico possível nas suas desafectações, em regra, piora nas mudanças de percepção do ambiente politico.

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O intelectual português é sempre muito cordato e compreensivo face ao poder vigente ou percepcionado (ou em potência) e, razoavelmente – para não dizer muito – contundente, para com poder já gasto, já esvaziado ou em fim de ciclo. No fundo, nada distingue o intelectual português comum, do simples adepto de futebol no sofá.

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A qualquer português que pergunta: - “está brincar comigo?”, devia ser respondido: - “não, estou a brincar comigo!”. Ora, o português, mesmo quando discute, está a falar para si mesmo.

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O que acontece quando o intelectual português comum faz força para pensar em directo na televisão? Faz comédia de costumes.

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Em mais país nenhum existem intelectuais como os portugueses. Ser intelectual e ser português não é possível em Portugal; excepto os poetas que só se dedicam à poesia; nenhuma actividade provoca mais estados de alienação do que a de poetar; os poetas, mas só os que se dedicam à poesia, vivos ou já mortos, como conjunto, está mais para fora do que para dentro do país. Logo, para um poeta, que faça disso ganha-pão, é insensatez permanecer em Portugal.

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Em Portugal, as universidades privadas, vieram acabar com o monopólio do mau ensino superior.

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Qual é a principal diferença entre um estudante português do ensino superior público e um do ensino superior privado? Só um deles tem vergonha na cara.

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Só em Portugal é possível a alguém, que recebe uma choruda pensão do estado, ainda por cima desde os 47 anos de idade, dizer, a plenos pulmões, e sem se rir: que reduzia os vencimentos de quem trabalha em 20% ou 30 %, sem mais explicações.

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Só em Portugal é possível a alguém, que recebe uma choruda pensão do estado, ainda por cima desde os 47 anos de idade, escolher tão mal as gravatas e os fatos.

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Aliás, ser português é isso: uns são pimpões sem cheta, outros estão mortos mas com dinheiro no banco.

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Em Portugal, optar por colocar um filho numa escola privada diz duas coisas: a primeira é que não se confia no estado como educador, a segunda é que não ser quer cá misturas.

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Qualquer português que foi alguma coisa nesta vida, ainda que por escassos 15 minutos, é-o para toda a vida. Se não acreditas, olha para o Ramalho Eanes.

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O português é um africano com todos defeitos de um espanhol.

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Os portugueses em vão tentaram deixar uma marca no mundo, sem lograr, que foram sobretudo eles a ficarem marcados.

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Quando se fala da descolonização portuguesa esquece-se o fundamental: aqueles povos já não suportavam ter o que quer que fosse com os portugueses.

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Qualquer angolano, moçambicano, são-tomense e outros, sabe, que de Portugal não deve esperar nada.

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O que o povo angolano, moçambicano e outros que tais, mais lamentam, foi terem sido colonizados por portugueses e não terem tido a coragem de se libertarem dessa funesta malta tão a tempo como o Brasil.

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O Agostinho da Silva (um estrangeiro) costumava dizer que o brasileiro é um português à solta. Ora, isso, é o equivalente a dizer que é merda à solta. É uma ofensa tremenda.

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Uma ratazana prenha devia ser o símbolo nacional dos portugueses.

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Portugal não é difícil e não precisa de especiais cuidados para ser vendido ao estrangeiro. Enfim, têm razão ao dizer isto, porque uma puta ébria e mal tratada pela vida, também não é difícil nem necessita de especiais cuidados para vender o corpo.

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Hoje, estou especialmente enojado com os portugueses. Tanto, que tenho que me resguardar de duas em duas horas de qualquer contacto.

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As minhas narinas farejam um português à distância. O único sítio, onde, alguma vez na vida fui feliz, foi numa ilha das Maldivas: não havia um único português por perto.

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Longas temporadas no estrangeiro purificam.

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Que diabo! Se pensas tão mal dos teus compatriotas e não podendo emigrar (era só o que faltava), que pode tu desejar deste país? Simples: que se torne liberal e que o Estado deixe de meter o bedelho onde não é chamado. Cada um por si, e sem mamas postiças, sff.

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O liberalismo nunca vingará em Portugal. O português abomina estar sozinho.

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Se existe coisa que a experiência liberal aconselha, é ser implementada em países onde os cidadãos sejam livres.

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Sem o estado, milhões de portugueses morreriam à fome.

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Sem o estado, milhões de portugueses ficariam honestos por não terem ninguém a quem aldrabar.

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Sem o estado, milhões de portugueses acordariam sozinhos.

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Sem o estado, milhões de portugueses não teriam desculpa.

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