quinta-feira, 8 de julho de 2010

Paradoxal, eu?

Como Chesterton eu não sou liberal apesar de ser católico,mas, ainda, sou liberal precisamente por ser católico. Embora reconheça na receita do liberalismo teórico um mesmo pecado original que encontro em todos os outros “ismos” pós-Kantianos – a sobrevalorização do indivíduo (neste caso, positiva) –, não consigo encontrar uma outra receita que se adeqúe mais perfeitamente à minha necessidade espiritual.

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Foi o pecado original do liberalismo, no que não difere de todas as correntes de pensamento modernas, que levou à separação da família liberal e à cristalização de correntes liberais tanto no socialismo como no conservadorismo. O facto da maioria identificar os liberais com os conservadores tem duas explicações: em primeiro lugar uma explicação óbvia de tão simples e que tem que ver com o facto dos conservadores nunca terem tido ninguém à altura para pensar o seu sistema, ao invés, adoram fazer alarde com pensadores liberais; em segundo lugar uma explicação mais complexa e que tem que ver com o sistema que apareceu após as duas grandes guerras, sobretudo nos anos 50 e 60 do século passado. Nessa altura, o mundo bipolarizado entre um “primeiro mundo” industrializado e capitalista e um “segundo mundo” industrializado e socialista, vamos dizer assim para simplificar, assistiu ao “endeusamento” do paradigma económico. A geometria estática da altura e mais ou menos previsível, antepunha projecções lineares ou balísticas do passado quer se sustentassem numa filosofia de economia de planificação central e de industrialização intensiva, quer na crença de um crescimento imparável e na emergência da modernidade industrial centrada na configuração do Estado-Nação, na razão providencial (do estado de bem-estar social) e nas relações de troca efectuadas num mercado dinâmico, estruturado em função do aparelho produtivo por um lado e nos consumidores por outro. Num contexto de optimismo internacional o peso que a economia veio a ter fez com que muitos (ligados ao capital e ao ocidente industrializado) se dissessem liberais como defesa do laisser faire, ou seja, apenas para garantir o modelo da economia capitalista. Tudo isto teve uma consagração mais ou menos dramática num sistema constituído pelo conjunto de "nações industrializadas" reunidas sob a égide da OCDE, a qual, passou a liderar sobre os principais factores mundiais de crescimento: capital, ciência e tecnologia, o trabalho, mercados de bens e serviços, concepções de gestão; todos conjugados afinal para a obtenção do chamado “pleno emprego” e geração de altas taxas de rentabilidade social e privada. Temos pois que grande parte dos que se dizem liberais são até apenas sociais-democratas, socialistas portanto.

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