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Foi o pecado original do liberalismo, no que não difere de todas as correntes de pensamento modernas, que levou à separação da família liberal e à cristalização de correntes liberais tanto no socialismo como no conservadorismo. O facto da maioria identificar os liberais com os conservadores tem duas explicações: em primeiro lugar uma explicação óbvia de tão simples e que tem que ver com o facto dos conservadores nunca terem tido ninguém à altura para pensar o seu sistema, ao invés, adoram fazer alarde com pensadores liberais; em segundo lugar uma explicação mais complexa e que tem que ver com o sistema que apareceu após as duas grandes guerras, sobretudo nos anos 50 e 60 do século passado. Nessa altura, o mundo bipolarizado entre um “primeiro mundo” industrializado e capitalista e um “segundo mundo” industrializado e socialista, vamos dizer assim para simplificar, assistiu ao “endeusamento” do paradigma económico. A geometria estática da altura e mais ou menos previsível, antepunha projecções lineares ou balísticas do passado quer se sustentassem numa filosofia de economia de planificação central e de industrialização intensiva, quer na crença de um crescimento imparável e na emergência da modernidade industrial centrada na configuração do Estado-Nação, na razão providencial (do estado de bem-estar social) e nas relações de troca efectuadas num mercado dinâmico, estruturado em função do aparelho produtivo por um lado e nos consumidores por outro. Num contexto de optimismo internacional o peso que a economia veio a ter fez com que muitos (ligados ao capital e ao ocidente industrializado) se dissessem liberais como defesa do laisser faire, ou seja, apenas para garantir o modelo da economia capitalista. Tudo isto teve uma consagração mais ou menos dramática num sistema constituído pelo conjunto de "nações industrializadas" reunidas sob a égide da OCDE, a qual, passou a liderar sobre os principais factores mundiais de crescimento: capital, ciência e tecnologia, o trabalho, mercados de bens e serviços, concepções de gestão; todos conjugados afinal para a obtenção do chamado “pleno emprego” e geração de altas taxas de rentabilidade social e privada. Temos pois que grande parte dos que se dizem liberais são até apenas sociais-democratas, socialistas portanto.
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