quinta-feira, 24 de junho de 2010

Os flatos:

Vi a semana passada o “plano inclinado”, e mais, vi e gostei. Gostei por ter sido esclarecedor nos mecanismos da demência colectiva a que nos arrastaram alguns opiniativos depressivos na ânsia desabrida e folclórica de vir dizer depois: "eu bem avisei". Pessimistas de brincadeira, pessimistas fátuos e mil vezes pessimistas de trazer por casa. Ora ora, deixem-se de merdas, se nem sequer têm uma resposta válida à pergunta “ao invés vamos fazer o quê”? Que eu com os pares de olhos e ouvidos que a terra há-de comer (espero que daqui a muito tempo), também não tenho resposta nem ninguém me pediu opinião, mas, estive atento à demanda da Filomena Mónica e à resposta do pessimista encartado. E, já agora, não que eu próprio, sem exageros fátuos ou de circunstância, não seja pessimista, sou-o, desde os meus três anos quando percebi o grau e dimensão da perversidade de um não, e a culpa é da minha mãe. Agora, que falta de pachorra, e é muita, pelos tristes que exageram a tendência que o homem comum tem de reconhecer situações desagradáveis. Ora, se é verdade que de facto o homem comum, sobretudo se for português e se for português governante por cima, exagera na dose de optimismo, não é menos verdade, que estar a reconhecer a toda à hora as maldades da existência como quem está flato é pura demência digna de ser tratada em hospício e tem que ser levado em conta para estabelecer o fiel da balança. Chega de bagunça miserável e desonestidade intelectual! Antes, sejamos claros e nada pífios: a situação está grave? Está. Tem solução? Talvez não. E daí? Vamos ensandecer colectivamente e espetar os dedos na cara do próximo a gritar a plenos pulmões os nossos diagnósticos apressados, traçando o mapa da diluição do país e de caminho o nosso pedido de exilio não na Espanha que está como está, mas em Angola? Ora, serenem, baixem a voz, controlem os fígados e o nervosismo, de seguida peguem no raio dos diagnósticos artilhados para passarem à acção, se faz favor, e se não for pedir desmasiado; ou, ao invés, não querendo, se a birra for mais forte que tudo, então, metam-nos num sitio escuro, húmido e fedorento que normalmente se encontra no fundo da vossas costas. Neste país, o pessimista fátuo e flato passa o tempo a chutar nas muletas do inválido como se com o seu perorar sobre as várias verdades com que enche a boca, provocasse o milagre de ver o coxo a andar sem mancar. Por outro lado, é ve-los, paradoxalmente, a aramarem de vitimas ou ignorados dei ex machina, e sendo quem são, a maioria exqualquer coisa importante nesta terceira república, não augura nada de bom para o futuro das nossas instituições. Bom, não lhe basta espicaçar o pobre com o seu handicap, não, tem que fazer tiro ao alvo ao seu apoio até o fazer cair. Não seria grave, se este desporto não estivesse a ser praticado em doses cavalares com a própria nação. A nação está doente e a usar muletas, e alguns, apenas a tentar deita-la ao chão. Aliás, não deixa de ser frequente ao ouvir este tipo de gente, depararmo-nos com teorias que só espelham um dos lados da verdade que tanto gáudio se faz de possuir, admitindo, apenas, as teorias que causam um efeito de repulsa nos outros; para estes, se algo tem duas explicações possíveis, a explicação real deve ser necessariamente a mais feia. E se não for, vamos fazer figas para que sim, certo?

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